terça-feira, 29 de junho de 2010

O Lado Humano

Hoje fui à escola consultar um exame.
Mandaram-me ficar à espera à porta do gabinete, tinham outras coisas para fazer. Estão sempre ocupados, sempre sisudos e quase sempre mal humorados. Quem os atura somos nós.

Mas na realidade eram mesmo estes pensamentos que me cruzavam a consciência...

"Como seria possível pessoas com tanto da vida já vivida serem tão antipáticos?"
"Não me podiam ter deixado dentro do gabinete? (Talvez recusasse a oferta, contudo ficava-lhes bem)"
"Será que a vida nunca lhes sorriu e por isso retribuem da mesma forma?"

Não consegui conter a correria de pensamentos que me preenchiam naquele momento de espera. E foi o que me valeu... Valete consegues imaginar a quantidade de professores que se cruzaram comigo e nem um aceno, um "bom dia", um "olá", uma simples abdução de lábios?... Depois dos primeiros cinco terem passado, não me importava que me cumprimentassem com um estalo, pelo menos sabia que tinham reparado.

Foi então que ouvi. E eu estava de costas...

"Comprei uma camisola linda para oferecer"
"Que bem! Gostava de ter ido contigo, mas estava cheia de trabalho"
"Foi mesmo pena, mas teremos mais oportunidades"

E eu continuava de costas... (Talvez sejam do quarto ano, a tratarem da sua licenciatura)

"O Toy Story 3 já está quase cá" (esbocei um sorriso. Quem me visse achar-me-ia parva)
"Pois é verdade é! Vou levar o meu filho"
"Está quase um homem"

Deixei de estar de costas, virei-me tão rápido quanto a minha posiçao permitiu sem que tombasse no meio do corredor... Eram duas professoras.
Uma delas (não percebi qual), fazia anos hoje e estavam a tirar fotografias uma à outra como se fosse duas moças.
São duas moças!
O tempo muitas vezes não passa ao som do "tick tack" do relógio, mas com o som do "tum tum" do coração. Eram duas jovens de 40 anos a conversar como todos nós conversamos.

Valete, todos os professores tentam que o seu reflexo passe a ideia de autoridade e parece que criam um círculo que os protege de criar empatia. Mas quem quereria uma coisa dessas?

Apesar de tudo, por detrás de uma veste de arrogância e superioridade está um Humano, que se ri e conta anedotas parvas.
Tenho professores muito inteligentes Valete e são esses que procuram no meio da sua intelectualidade acima da média e encontram os "bordões de linguagem" para comunicarem conosco.

Somos tanto e tão pouco.

Só mesmo nós para fazermos de uma pessoa um montro, quando na realidade os monstros somos nós! Aqueles que assumem, presumem e consomem erroneamente o verdadeiro significado da palavra: Humano.

"Há demasiadas pessoas e muito poucos seres humanos"
Robert Zend

4 comentários:

  1. Há demasiadas pessoas e muito poucos seres humanos. Está tudo dito e explicado...

    (gostei de passar por aqui)

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    1. Já vai há uns anos, mas decidi reavivar este príncipe adormecido.
      Obrigada por teres passado!

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  2. Lembro-me de que, quando andava no liceu e, depois, na faculdade, também me surpreendia quando os professores eram também pessoas "normais". E mais espantada ficava quando via na noite, trintões e quarentões a divertirem-se como eu. Hoje, sou uma dessas trintonas, mais perto dos quarenta do que dos trinta. E agora só não entendo como raio pensei que, aos 30 ou aos 40, iria ser outra coisa diferente do que sou hoje, ou seja, tão igual ao que era há 20 e 15 e 10 anos atrás... :)
    (Não resisti a retribuir a visita) :)

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